Samarco e o “timing”

Timing é o desafio do profissional de marketing e comunicação de unir de forma certeira proposta e tema de campanha, apelo e, acima de tudo, o tempo certo de colocar a campanha no ar. Algumas campanhas se valem de temas políticos, quando em períodos de eleição. Outras utilizam-se de grandes eventos, como Olimpíadas e Copa do Mundo, por exemplo. Uma campanha com um bom timing é melhor assimilada pelo consumidor, pois este está imerso dentro do tema.

Não foi isso que vemos com a recente campanha de comunicação de marketing da Samarco Mineradora. Responsável direta pela maior catástrofe ambiental da história do Brasil, o desafio de melhorar a imagem institucional depois da destruição do povoado de Barra Longa, em Mariana-MG, é gigantesco para as equipes que comandam o branding da organização. Mas a necessidade de dar uma resposta ao público fez com que a organização trocasse as “mãos pelos pés”.

Veiculada inicialmente no horário nobre do domingo na TV Globo, a campanha que já tinha saído no YouTube, tentava trazer um apelo emocional, onde afligidos pela tragédia, funcionários da empresa e líderes públicos pareciam ser parceiros no evento. O tom de emoção em dizer que a empresa estava fazendo a parte dela, ajudando os desabrigados e as famílias da região soaria bem em qualquer circunstância, exceto pelo erro do “timing”.

Em nota, a Samarco afirmou que a campanha publicitária “tem o objetivo de prestação de contas à sociedade das ações que a empresa vem realizando para a mitigação das consequências socioeconômicas e ambientais do acidente com a barragem de Fundão”. Ótima ideia. O problema é que faltou falar com a sociedade em geral. Depois de um “acidente” desses, que tão profunda chaga deixou na sociedade brasileira, comunicar de forma a mostrar a Samarco como amiga que prima pelo afeto e cuidado com as pessoas atingidas não era o que se esperava.

A Samarco, com esta campanha, tratou o desastre das barragens de rejeitos que soterraram Barra Longa como uma coisa comum, remediável. Em certa altura, parecia que estávamos assistindo a uma propaganda política, com um candidato mostrando o seu passado ilibado e como ele prioriza o povo em primeiro lugar. O povo brasileiro, a quem se destinava a comunicação, reagiu bem diferente do que eles esperavam. As mídias sociais foram inundadas com mensagens de repúdio ao comercial. A desaprovação foi em massa, coisa rara nessa época das mídias sociais que polarizam pensamentos.

samarcolamaNão, Samarco, não é o tempo para emoção, e sim para razão! Primeiro lugar, anunciar no horário mais caro da TV brasileira (entre outros)? Por que não só internet? Imagem arranhada pelo que pareceu desperdício de recursos. Segundo lugar: não é hora de colocar pessoas emocionadas pelo seu trabalho nas diversas telas. Os anúncios deveriam ser estritamente informativos daquilo que a Samarco, por obrigação tem que fazer. Mostrar os alvos alcançados. Direto, rápido, sem profundidade emocional. A ferida ainda é recente para a sociedade brasileira. Não se pode vacilar! Pura razão, Samarco… razão e não emoção!

O erro principal da Samarco foi o timing. Acharam que era a hora certa mas não era. Erraram por muito, na verdade. Como disse, a ferida ainda está recente. O comercial não é ruim, longe disso. Tecnicamente muito bem feito. Mas o erro de timing pode ter transformado a comunicação de marketing de uma empresa que necessita mais do que nunca de melhorar sua imagem,  numa lama ainda maior. Lama essa que, desse jeito, vai ser difícil de sair.

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Marketing em Angola #2 – Brasil Além-Mar

Continuando a série “Marketing em Angola”, onde falo das minhas impressões sobre o lugar onde passei o mês de setembro/2014. Este post fala sobre como o angolano enxerga o Brasil e como as empresas brasileiras aproveitam isto.


Sede da Record Angola, no bairro da Talatona

Sede da Record Angola, no bairro da Talatona

Definitivamente, Angola ama o Brasil. Somos realmente irmãos de colonização desses africanos. Várias coisas fazem com que eles tenham este carinho para conosco, a começar pelo consumo de cultura nacional. E o principal ponto é a televisão.

Angola não possui TV aberta, como no Brasil. A TV a Cabo tem o mercado disputado pela DSTV e pela ZAP. Em ambas, os canais brasileiros internacionais estão entre os mais assistidos. Em destaque Globo, Record, Band e alguns programas do SBT que são transmitidos por outros canais. Então, tudo é visto por lá! Novelas, jornais, programas de auditório… Angola já teve o maior mercado a céu-aberto do mundo (desativado fazem vários anos), chamado “Roque Santeiro”, tamanho o sucesso da novela global por lá.

Mas em Angola a Globo não é mais soberana. Pelo contrário: a Record está mais no coração do angolano. Rodrigo Faro, Ana Hickman, são muito conhecidos, queridos e respeitados em Angola. Até as novelas da Record estão sendo vistas como mais empolgantes do que as da Globo. Este cenário faz entender o investimento da Record no país, onde eles têm uma sub-sede e diversas propagandas espalhadas por Luanda.


Cultura Brasileira

Enfim, a TV levou a cultura brasileira para Angola. Eles sabem tudo sobre o país luso-irmão. Alguns pontos:

1. O angolano enxerga o Brasil como país violento (potencializado pelos programas policiais). A morte de uma universitária angolana no Rio de Janeiro teve repercussão nacional por lá.
2. Música brasileira é uma das líderes de “audiência”. As rádios tocam demais a música nacional. Destacam-se: Banda Calypso, tida como a “banda brasileira mais querida dos angolanos”, Ivete Sangalo, Michel Telo (assim mesmo, sem acento). Mas ouvi de tudo, desde Roberto Carlos à Roberta Miranda. Afinal, todos os cantores famosos do país estão nos programas muito assistidos.
3. Fiquei impressionado com o tanto de torcedores do Flamengo (pelo menos usando a camisa do time) em Luanda! Praticamente vi uma camisa por dia durante a minha estadia por lá.

Marcas Brasileiras

Muitas são as empresas brasileiras que estão em Angola. Como disse num post anterior, nenhuma se compara à Odebrecht, que tem mais de 30 mil funcionários e é o maior empregador privado do país. A empresa comemorou recentemente 30 anos de Angola, com ampla comunicação. Outras construtoras e incorporadoras, como a Queiroz Galvão, estão presentes e muito bem divulgadas no país.

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Loja das Havaianas no Belas Shopping

Passeando por Luanda, você percebe claramente uma das marcas brasileiras famosas no mundo todo. As “legítimas” Havaianas estão por toda a parte. Como indicador do sucesso, já há as “piratas” também.

Restaurante Bob's Burger no Belas Shopping

Restaurante Bob’s Burger no Belas Shopping

Aí entra em ação várias franquias de marcas brasileiras. Num país com poucas empresas de fast food (o KFC é uma das poucas marcas que estão no país), é interessante ter uma marca brasileira tão destacada. No principal shopping do país, o Bob’s reina soberano nos burgers e nos sorvetes e similares.

Quiosque de "O Boticário" no Belas Shopping

Quiosque de “O Boticário” no Belas Shopping

A rede FISK, escola de idiomas, tem uma operação legal também em Angola. Já estão por lá fazem alguns anos e o franqueador é brasileiro. O Boticário também está presente, com cinco lojas e uma perspectiva de crescimento muito grande, segundo o gestor internacional da marca. Outras empresas atuam por lá, como por exemplo Mundo Verde, Sapataria do Futuro, Mister Sheik, Green Moda Infantil e Livraria Nobel.


O potencial do mercado angolano deve ser olhado com muito carinho por gestores que desejam internacionalizar operações de empresas do Brasil. É um país que ama o nosso e que vê com muito carinho aquilo que temos aqui. Vale a pena pensar com carinho esta possibilidade.