Marketing em Angola #1 – Ambiente de Marketing

Quem me acompanha além do blog, principalmente pelas mídias sociais, sabe que este mês tenho tido a grata satisfação de conhecer um novo continente (África) e um novo país. Desembarquei em Angola numa missão de “espalhar o marketing”, através de aulas para o curso de Mestrado em Gestão da Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto, maior instituição universitária do país, numa parceria com o Núcleo de Pós-Graduação em Administração da UFBA. Assim, tenho passado essas semanas conhecendo o país de uma forma mais imersa na realidade cultural e social, não fazendo os célebres passeios turísticos que a gente encontra nos roteiros oficiais. O que tem me dado subsídios para uma boa análise da economia, do comércio e dos serviços do país, bem como também para as aulas e pesquisas que realizamos na universidade.


Neste primeiro post, gostaria de compartilhar um pouco do que tenho visto no país, enfatizando as diferenças para o Brasil, nestes cenários citados.

Generalidades

Baía de Luanda, Avenida Marginal. E, ao fundo, as inúmeras gruas.

Angola é um país que está em construção. Luanda e cidades circunvizinhas são um canteiro de obras. Fiquei impressionado com a quantidade de gruas de construção civil espalhadas pela cidade. Isso indica o porque que grandes empreiteiras brasileiras atuando no país, com destaque para a Odebrecht, com mais de 30 anos no país. A empresa baiana agora diversifica seus negócios em Angola, investindo também em agroindústria, petróleo, gás e mineração. De longe, é a empresa que mais emprega no país, com mais de 24 mil empregados, perdendo apenas para os cargos públicos. Fica clara a importância da Odebrecht para Angola e ela não se cansa de demonstrar isso, através de campanha publicitária enfatizando a ligação emocional entre o povo angolano e a empresa.

Uma coisa que ainda também está “em construção” é a própria vida urbana. Fiquei espantado com a quantidade de lixo nas ruas, principalmente nos bairros mais populares, em localidades como Benfica, Samba e outros pontos famosos de Luanda. As autoridades estão preocupadas, pois vejo uma campanha social forte sobre o tema, tanto nas ruas, quanto no rádio. Mas ainda é uma questão cultural e vejo que será um trabalho de geração(ões).

Os “Candongueiros”

Os engarrafamentos são gigantescos e, na hora do rush, pioram consideravelmente. Estou hospedado na Cidade do Kilamba, distante 40km do centro de Luanda. Num dia ruim, levo 1h40 para chegar ao destino. É interessante que há diversos motivos para o trânsito parar, num ar de civilidade urbana que não vemos no Brasil. Uma pessoa atravessando uma passadeira (faixa de pedestres) pode parar o tráfego inclusive da via expressa. O entrar e saltar de passageiros das incontáveis “candongas” (o transporte público todo é realizado por essas vans, normalmente da Toyota, pintadas de azul e branco), também prejudica muito a fluidez do trânsito.

A comida é ótima. Achei muito parecida com a comida do norte do Brasil. Os pratos típicos como o Funge e a Muamba, me lembraram dos tucupis e tacacás da vida. Os angolanos poderiam trabalhar melhor com isso, pois tais comidas típicas não são tão facilmente encontradas por um turista, por exemplo, a não ser que seja em locais onde paira a dúvida sobre a higiene.

Falando nisso, creio que há de se fazer um trabalho muito grande sobre a questão do turismo, principalmente para o estrangeiro. Vejo um potencial tremendo para o turismo a nível internacional. Angola ainda é um “gigante adormecido” nesse ponto, e creio que, mesmo sendo um destino conhecido, pode-se fazer muito mais. Exemplos africanos, como o da vizinha Namíbia e da África do Sul, podem ser usados como benchmarking.

Povo

O povo angolano é demais. Povo legal, hospitaleiro, que adora cumprimentar e bater um bom papo. Sentem-se muito próximos aos brasileiros, o que fez eu ser mais bem tratado ainda! Fazem você se sentir em casa.

Adoram futebol. Além dos times locais (destaque para o Petro de Luanda e o 1º de Agosto), acompanham MUITO o futebol europeu. Sabem tudo da galera de lá. Do Brasil, não acompanham muito, mas fiquei impressionado com o número de camisas do Flamengo que vi aqui! Disparadamente maior do que qualquer outro time (com exceção do 1º de Agosto), inclusive da Europa!

Angolanas e seus lindos cabelos

O povo é muito estiloso! Adoram se vestir bem e de forma bem singular, única. As mulheres são um caso a parte. Como são estilosas! Em tudo! Dou destaque para os cabelos das mulheres. Diferente do que vejo no Brasil, as mulheres aqui tem infinitos (infinitos mesmo!) modelos de cortes, penteados, cores, jeitos. É simplesmente lindo e sensacional! E a roupa é relativamente barata (falo disso num próximo post).

Gostam muito de festas. Nisso se parecem bem com o povo da Bahia! No horário nobre da televisão, os comerciais são quase que na sua totalidade, de eventos sociais, festas, baladas ou produtos ligados a isto. Realmente são apaixonados pela diversão, e diversão em conjunto.

Sociedade

É fácil perceber que há um gap de classes sociais em Angola. Há localidades e pessoas muito pobres e gente muito (mas muito mesmo!) rica. É perceptível isso ao passar por bairros diversos. Andar por Talatona é como andar em qualquer cidade moderna do mundo, com prédios e casas de alto padrão e de muito bom gosto (lá se encontra o Belas Shopping, grande shopping da capital). Já em outras localidades, vê-se os ambulantes aos montes (falarei deles em outro post), casas de baixa qualidade e dezenas de ruas sem asfalto, fazendo com que a poeira amarelada impere sobre boa parte da cidade.

Há um ranço com os portugueses, chamados “carinhosamente” de portugas. E estes andam sempre meio prepotentes pela rua. Vi muito pouco portugueses e angolanos em momentos de descontração. Há uma desconfiança também com os chineses, que tem invadido o país para gerenciar grandes projetos de construção civil, como a Cidade do Kilamba.

Numa aula onde apresentava os dados de classes sociais brasileiras, meus alunos falaram que o que ganha um cidadão de classe A2 no Brasil (acima de R$ 10 mil/mês) é classe B em Angola (não vi dados oficiais de Angola). Entendi a fama de Luanda ser uma cidade cara.

Carros

Trânsito em Luanda. Me impressionou a quantidade de carros que no Brasil são de alto padrão.

Aqui tem muitos carros. Angolanos adoram carros, talvez num nível maior do que o brasileiro. Adoram mexer nos carros (e que carrões!), deixá-los sempre brilhando e tinindo (o que é um desafio enorme, pelo tamanho de poeira que existe aqui). Mas pela intensa falta de água, lavam os carros sempre com um baldezinho de água (precisamos aprender com eles).

E, diferente do Brasil, o mercado angolano é dominado pela Hyundai. O que mais se vê aqui é Elantra (inclusive inúmeros taxis), carro considerado caro no Brasil. Além disso, a montadora coreana tem modelos não existentes no Brasil, como o i10, i20 e Accent, além do i30, Tucson (o nosso ix35), Sonata, Azera, SantaFé, VeraCruz e Veloster. Também se vê muitos carros da Kia (Rio e  Sportage se vê aos montes). Renault também tem uma parcela importante do mercado (Logan merece destaque, além da grande presença do Sandero e do Duster). Suzuki se especializou em carros populares, por isso também é vista aos montes. Nissan também. Toyota, só para carros grandes como Hilux, Fortuner (a nossa SW4) e Land Cruiser (inexistente no Brasil). Ford, só pickups grandes. Fiat, não vi nenhum. Volkswagen, só vi Touareg. Chevrolet só carros mais baratos (com exceção da Captiva), como Sonic. Além de ver de forma muito mais presente aqui do que no Brasil, marcas como Jeep (Grand Cherokee), Lexus, Porsche e Jaguar, por exemplo.

Os carros são mais baratos, relativamente, do que no Brasil. Um Kia Sportage 0km é facilmente comprado em Angola, à vista, por US$ 35mil. Elantra, US$ 26mil. Logan (fabricado no Brasil), US$ 18mil. Isso tudo em um país que não tem nenhuma fábrica de automóveis. A grande maioria dos carros são provenientes de importações via Dubai, localidade com vôos diretos de Luanda por mais de uma empresa aérea, e que tem se tornado um ponto de visita grande para os angolanos, inclusive de classe média.

Outros pontos

Para as empresas e para o povo comum, Angola conseguiu um limiar entre a burocracia e o “deixa pra lá”. Para algumas coisas, como abertura de empresas, há burocracias extremas, o que faz com que muita gente tenha negócios não regulares ou não registrados. E que também não tem grande fiscalização. Questões relativas à receita e arrecadação de impostos também são aparentemente maleáveis (segundo meus alunos, é para manter as possibilidades de corrupção mais tranquilas). Mas se você é pego, há complicações muito fortes.

Similar ao Brasil, as filas são homéricas. Testemunhei algumas bem grandes por aqui.

Nunca vi um lugar com tantos bancos! É impressionante o número de marcas e o número de agências. Falarei disso, com mais detalhes, em um próximo post.


Enfim, estas são as primeiras impressões do Ambiente de Marketing angolano. Qualquer empresa que aqui quiser se instalar, tem que passar por estas questões culturais e sociais, base do estudo ambiental de Marketing em qualquer localidade. Claro que vai muito além do que coloquei. Mas como disse, estes são meus destaques.

Tenho cada vez mais me impressionado positivamente com o país. Clima agradável e pessoas maravilhosas. Mas as questões de marketing, bem como de administração como um todo, ainda são bem incidentais e precárias. Há de se fazer um enorme trabalho por aqui e fico feliz de estar presente neste momento.

No próximo post, falo um pouco sobre a relação Brasil x Angola, incluindo as questões comerciais e de marketing.

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Cultura e Marketing: Definições

Em muitos papos de marketing, já percebi, em diversas vezes, o pessoal se equivocando sobre o que é Marketing Cultural. Neste post, apresentarei as definições que envolvem Marketing e Cultura.

CULTURA
Dentro do Comportamento do Consumidor, a cultura tem papel fundamental. É ela que é a base do que chamo de “Caixa-Preta” do Consumidor, ou seja, todas as informações que moldam a forma de pensar e agir deste cidadão que está indo as compras. É o principal determinante dos desejos e comportamentos de uma pessoa. Todo grupo ou sociedade possui uma cultura, e a influência da cultura sobre o comportamento do consumidor varia muito de país pra país e de região pra região.

Dentro deste item temos:

– Subculturas: As divisões culturais de um território, que podem ser étnicas, religiosas, de grupos especiais ou, simplesmente, regionais. Muitas delas constituem segmentos de mercado importantes e os profissionais de marketing frequentemente desenvolvem produtos sob medida para suas necessidades.
– Classe Social: É a combinação de fatores como renda, ocupação, instrução e estilo de vida. A influência sutil deste item e é de muito interesse, pois os membros das classes tendem a ter comportamentos parecidos.

MARKETING CULTURAL
Aqui temos a definição de cultura mais voltada para a área artística e de costumes de uma sociedade. Usando a definição do meu professor e amigo Antônio Carlos Giuliani, o marketing cultural é o “conjunto de ações usadas para a promoção de projetos, produtos e serviços culturais, patrocinados ou não por uma organização cujo produto ou serviço se diferencia de um produto ou serviço cultural”. Tudo a ver com o desenvolvimento de projetos que promovem a cultura da sociedade.

O desenvolvimento do marketing cultural é consequência das interações destes “atores”¹:

– Artista: o destino dos recursos;
– Agente cultural ou Produtor cultural: o responsável pela montagem do projeto, é o facilitador da relação entre o artista e o patrocinador.
– Patrocinador: é a fonte de recursos que viabiliza o evento cultural, recebendo contrapartidas por estes recursos.
– Usuário: é o consumidor do produto cultural.

TIPOLOGIAS CULTURAIS
Este tema é ligado, principalmente, ao Marketing Global e Relações Internacionais.

Derivado do estudo da cultura, mencionado anteriormente, estuda os tipos diferentes de culturas globais, dando ênfase em determinadas variáveis de diferenciação. O mais famoso estudioso desta área é Geert Hofstede, que no fim dos anos 70, começou os seus estudos com as subsidiárias mundiais da IBM, no que resultou na diferenciação de países segundo os seguintes pontos:

– Individualismo/Coletivismo – Indica que as sociedades se dividem entre aquelas que tendem a ter seus indivíduos associados mais aos seus próprios interesses e da família; e aquelas que tem interesses em comunidades e grupos especiais.
– Distância do Poder – É a extensão em que os indivíduos mais ou menos poderosos em uma sociedade aceitam a desigualdade de poder e o consideram normal. O grau de  tolerância com os de menor ou maior poder, varia de acordo com o país.
– Masculinidade/Feminilidade – As culturas se diferenciam entre as que tem maior influência e poder do homem (que avaliam mais o sucesso e assertividade material), com as do maior poder de igualdade das mulheres (relacionamentos interpessoais).
– Tolerância à Incerteza – extensão em que os indivíduos de uma cultura ficam nervosos em situações desestruturadas. Nos mais aversos, as pessoas são ativas, agressivas, emotivas e intolerantes. Nos mais tolerantes, são mais contemplativas e aceitam mais os riscos.

Falarei aqui no blog, mais pra frente, sobre o trabalho do Prof. Hofstede, de forma mais aprofundada.

Dica de Marketing: Se você quer saber mais sobre estes temas, anote aí as leituras adicionais abaixo:
Cultura e Marketing:
Comportamento do Consumidor: Comprando, Possuindo, Sendo“, de Michael Solomon. Seção 5 – “Consumidor e Cultura”. Bookman Editora. Já está na 9ª edição em português.
Marketing Cultural:
Marketing Cultural e Financiamento da Cultura“, de Ana Carla Fonseca Reis. Editora Thomson.
Tipologias Culturais:Marketing Cross-Cultural“, de Ildefonso Grande. Editora Thomson